A afetividade e o desenvolvimento estrutural e psicológico do ser humano

 

     Ao analisar as representações de afeto na vida do ser humano, buscando entender a afetividade tomando como base a primeira infância, incluindo desde a concepção, bem como, suas principais figuras representativas: os pais. E também as possíveis conseqüências da falta de afetividade na adolescência e na vida adulta de alguns sujeitos.  Posso entender o quanto as manifestações de afeto, principalmente mãe/filho são decisivas para a formação da personalidade e terão importante influência nas relações sociais ao longo da vida do sujeito, sendo assim, determinante na formação da estrutura emocional. 

    A afetividade faz parte de todo o desenvolvimento estrutural e psicológico do ser humano, e, sem ela, o sujeito não se desenvolve plenamente. É de extrema relevância, demonstrar a importância do afeto na construção da base da personalidade nos primeiros anos de vida, considerando que aquilo que acontece ao sujeito neste período irá refletir-se na adolescência e na fase adulta. As impressões registradas no inconsciente, pela presença ou ausência das relações afetivas entre pais e filhos, podem causar graves transtornos afetivos e emocionais às crianças.

    O tratamento dado à relação mãe-criança pela psicanálise pode ser enxergado pela forma como as diferentes correntes psicanalíticas abordam a relação sujeito-objeto. É nessa perspectiva que abordo a relação mãe-criança, da forma como é  analisada   por alguns psicanalistas pós-freudianos, de modo a esclarecer a teorização acerca das noções de sujeito e objeto na psicanálise.

    Pois, a transmissão de valores essenciais, a forma de amar, de acolher, de dizer "não" tem muito da forma como cada sujeito foi estruturado na relação mãe-criança. A mãe  é  um exercício integral de amor e compreensão.  Por isso todos  guardam lembranças ternas e muito pessoais dessas mulheres tão especiais em suas vidas. 

      Quero ilustrar essa discussão com alguns relatos registrados nos meus encontros com professores, mães. Constato que todos guardaram lembranças ternas e muito pessoais dessas mulheres tão especiais em nossas vidas.  A reflexão proposta:  O que aprendi com a minha mãe? E, obtive  as seguintes respostas: 

_ "Aprendi a ser forte. Não aquela fortaleza fria, reservada, mas uma força repleta de energia feminina, que sustenta as decisões difíceis, que sabe acolher a fragilidade quando ela vem. E entender, também, o fracasso, transformando-o em motivação para superar o que tiver de ser superado”

_ “Aprendi a escutar as pessoas, sentir as circunstâncias, observar os eventos para perceber, nas entrelinhas, o que a vida queria me dizer”.

_ “ Aprendi a ter força. A força que ela me passou foi muito dócil porque me ajudou a olhar o outro com compaixão, entendendo que cada pessoa tem a sua história, e que nenhuma história é melhor ou pior. Mas todas são importantes. Acho que aprendi com minha mãe a saber mais do outro e de mim mesma”.

_ “"Aprendi com minha mãe que o ser humano, o amor e o coração são as coisas mais importantes da vida”. 

_ “Sem ter educação básica, minha mãe tinha um senso de civilização fora do comum. Me deu uma educação exemplar, na conduta, nos hábitos, na moral, no respeito às pessoas, nos compromissos com o próximo, como se tivesse tido, ela própria, uma educação de corte francesa. Por essa razão, além do amor que tive por ela, tenho imenso orgulho de ter sido seu filho (e acho que ela também de orgulhou de mim...)"

_ “A minha mãe, apesar de pouco estudada, me transmitiu valores essenciais, como o respeito, a honestidade. Por essa razão, tenho imenso orgulho de ser sua filha, e,  acho que ela também se orgulha de mim”

_ “Com minha mãe, aprendi, sobretudo, a alegria. Ainda escuto suas risadas por aí. Outra coisa foi a elegância, que nunca aprendi direito. Era uma linda mulher, que meu pai tratava como rainha. Ela gostava de perfumes e de flores. Lembro dela cortando rosas do nosso jardim, mostrava-me o seu aroma incrível. A minha mãe era muito sensível”.

_ " Com a minha mãe, aprendi a ser otimista. A minha mãe era otimista, e costumava nos animar a todos. Para ela a vida não era nem difícil nem chata, mas cada dia um chamado de muitas pequenas coisas boas: a família, sua casa, o jardim grande feito por ela;  os encontros em casa com amigos que ela promovia. Aprendi a ser otimista, gostar de viver e, aproveitar o que a vida nos oferece. ” 

    Então, as atitudes de carinho da mãe, serão a mola mestra, a segurança e a base para uma adolescência e vida adulta feliz. A falta de afeto por parte dos pais, assim como a ausência de uma estrutura familiar adequada durante os primeiros anos de vida servirão, para que o adolescente, assim como o adulto, desenvolva mal seu aparelho psíquico e não amadureçam emocionalmente.

A  criança nasce indefesa.  É um ser desintegrado, que percebe de maneira desorganizada os diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebê nasce também com uma tendência para o desenvolvimento. A tarefa da mãe é oferecer-lhe um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um bom desenvolvimento.

E, a afetividade é primordial na formação psíquica do indivíduo, sendo que, sem ela, há um "desvio" na conduta da personalidade do ser humano. Para existir um vínculo afetivo saudável, precisa haver uma referência que dê suporte na formação da criança, podendo ser os pais, ou uma pessoa que desempenhe um papel importante nos primeiros anos de vida.   As pessoas das primeiras relações funcionam como protótipo do que vamos encontrar na vida. As impressões que temos das coisas  tem papel decisivo nas nossas  escolhas. E, as escolhas tem a ver  com uma imagem topográfica que montamos no inconsciente; tem a ver com como organizamos  isso nas primeiras experiências com o outro. A primeiras relações, as identificações, eu transfiro para as outras relações, as sociais. Isso, pode-se dizer que foi herdado de alguém que ocupou um lugar de importância na nossa infância. Por isso, a psicanálise postula que "nunca deixamos de ser a criança que fomos".