Educação e Subjetividade

 

 As aprendizagens, desde a leitura e a escrita, estão inscritas como trocas simbólicas que façam sentido para o sujeito, criativamente. Para isto um NÃO precisa ser introduzido, um não firme e carinhoso que mostre as diferenças, as alternativas de troca para a criança, as alternativas de construção no plano simbólico daquilo que ela perde no particular do imaginário infantil.

 O acesso à cultura só é possível com uma certa dose de insatisfação, de trabalho por onde a cultura entra enquanto substituição, enquanto troca simbólica.  A criança deve trocar uma coisa por outra para ter acesso a cultura. A cultura enquanto um Outro lugar que não o infantil (lugar privativo). A Escola é o lugar das trocas simbólicas -, para algumas crianças trocar, substituir implica em sofrimento -, então ela deseja ficar no seu lugar privativo.  

Quero dizer que é o NÃO que introduz as relações simbólicas na criança. É o que permite o acesso ao social.

A Educação moderna, ao se construir como liberalismo, dissimulou o castigo físico, disfarçando os controles e a disciplina, e legitimou um tipo de não – “não pode ser diferente” – a igualdade, onde aparece só o SIM... um mesmo modelo de desempenho padronizado para todos.

A legitimação da criança como sujeito da lei simbólica, da linguagem, se efetiva na educação escolar através da construção da leitura e escrita formalizadas a  partir da lei da cultura. Pois a educação escolar transmite a lei simbólica e sustenta seu lugar social ao ensinar a leitura e escrita socialmente compartilhadas.
Mas para a criança essa travessia implica em idas e vindas, implica em conflitos do sujeito diante da lei, posições específicas diante da lei, das regras. Isso produz diferentes formas de subjetividade. Pois a lei implica em trocas simbólicas, e trocas simbólicas implicam em perder algo, implicam em substituições, em ausência de algo para que este algo possa ser simbolizado... Enfim, é necessário uma dose de insatisfação... Condições difíceis, uma vez que a imagem, o prazer imediato, a satisfação plena, a não-frustração, o ganhar sempre....dominam as formações sociais e contaminam os princípios pedagógicos.

Ler e Escrever concebidos de forma rigorosa e precisa como operações estruturadas na linguagem não se “desenvolvem” naturalmente; são construções árduas e difíceis, pertinentes à vida do homem nas trocas simbólicas da vida em sociedade, portanto envolvidas numa dose de mal estar. 

Cabe ao educador transmitir a lei simbólica presente na leitura e na escrita e demais conhecimentos históricos transmitidos na escola.

Cabe a psicopedagogia acompanhar as dificuldades do sujeito de acesso a sua cultura operando trocas simbólicas na sua travessia pelo ato educativo em seu acesso à lei simbólica, ao código simbólico transmitido na escola. Para tanto, a intervenção psicopedagógica deve sustentar-se no ato educativo e sustentá-lo como ato que socializa e subjetiviza nas trocas simbólicas.  


  Maria Teixeira