Dislexia, Hiperatividade, Transtorno déficit de atenção, etc... 

       Obter significação compreende uma relação com o pensamento abstrato: deduzir, interferir, generalizar, conotar, associar, categorizar etc. E acontecem imediatamente quando o processo da leitura está sendo adquirido.

      A significação decorrente do processo da leitura é um conceito psicológico que precede a linguagem porque ela nasce das coisas reais e concretas.   A significação é anterior a linguagem falada e está permanentemente implícita no processo da recepção e da expressão da linguagem escrita (Gibson e Levin, 1975). E, denomina-se de desordem da linguagem auditiva e a linguagem visual (receptiva e expressiva).

       A dislexia começou a ser estudada por neurologistas no final do século XIX.   Mas, os educadores do início do século deram pouca importância ao que esses estudiosos chamam de "distúrbios específicos de linguagem", limitando-se somente ao âmbito pedagógico do problema.   Foi o médico neuro-psiquiatra americano Samuel T. Orton(1937), que promoveu o conceito de dislexia do desenvolvimento.   Orton foi o primeiro a argumentar que essa diferente forma de ler e escrever se devia a uma disfunção cerebral que ocorre quando o indivíduo não possui uma dominância hemisférica adequada.   

    A partir daí surgiram muitos argumentos sobre a questão e, alguns começaram a tratar a dislexia como um problema ou anomalia. Então, cogitava-se que, a criança precisava de tratamento especial, e até mesmo medicação. Essa discriminação trouxe e, continua trazendo alguns transtornos à criança e a família. 

     Dentro desse contexto, a psicologia cognitiva, que até então, era a única ciência que estudava os processos mentais normais de memória, percepção, linguagem, juntou-se neste estudo com a neuropsicologia, que se refere ao estudo das funções cerebrais, a fim de criar a neuropsicologia cognitiva que é o estudo dos transtornos cognitivos em conseqüências de um dano cerebral (Ellis, 1993).   Então, a dislexia passou a ser tratada como uma transtorno ou disfunção cerebral, assim como, o déficit de atenção, hiperatividade, etc.  

  Na verdade, nomeou-se o “problema” e todas as dificuldades de aprendizagem passou a ser tratada pelos psicólogos (área médica) como uma disfunção neurológica, e nos casos mais críticos, encaminhamentos irresponsáveis para tratamento medicamentoso.

    Sabe-se que são muitas as especulações acerca dos problemas cognitivos que afetavam a aprendizagem e, trazem implicações no comportamento da criança, por isso, é tema de muitas discussões, palestras, livros etc.   Mas, na realidade, não há nenhum estudo cientifico até o momento que comprove a veracidade de tais diagnósticos. Portanto, todas as afirmações e diagnósticos precoces são questionáveis.  Entretanto, a idéia de que  todas  as  crianças que apresentam dificuldades na aquisição de leitura e escrita, apesar de ter uma inteligência normal, audição e visão normal e ter sido submetida a um ensino adequado, está introduzido nas várias definições de dislexia disponíveis nos círculos médicos.

       Estudos neurocientíficos continuaram com o propósito de justificar o por quê de algumas crianças apesar de serem submetidas a instrução convencional, ter adequada inteligência, oportunidade sócio-cultural e não possuírem distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, apresentarem falhas no processo de linguagem. Essa questão intriga esses  pesquisadores, pois, as crianças diagnosticadas como disléxicas são geralmente indivíduos inteligentes, frutos de “bons lares” e “boas escolas”. Pois, acredita-se até então, que o caráter socioeconômico é um fator importante na definição da dislexia.   Pois, se a criação de uma criança é adequada, logo, pode-se supor que ela aprende a ler e escrever mais rapidamente do que uma criança das classes menos privilegiada, sem incentivo, etc.   

      E, dessa forma, algumas afirmações que diziam respeito a um percentual elevado de crianças disléxicas, torna-se duvidoso, uma vez que qualquer mudança nesses critérios poderia mudar radicalmente esta percentagem.   

       Atualmente, o termo dislexia vem sendo usado de forma indiscriminada, ou seja, se a criança apresenta dificuldade no processo de alfabetização, logo, é disléxica.   Embora o termo dislexia venha sendo amplamente estudado, no entanto,  nem sempre é explicativo e útil para os profissionais que atuam com “o objeto” desta discussão.           

      Diante destes diferentes pressupostos, é compreensível o quanto é difícil para os profissionais que lidam com crianças em fase de alfabetização, compreender qual a natureza das dificuldades e qual deve ser a intervenção mais adequada.  

      Por outro lado, a minha experiência por longo período com crianças que apresentam dificuldades no seu processo de aprendizagem, tem mostrado que não se trata de nenhuma patologia e, sim, desconhecimento de "coisas" que ainda não aprenderam. Faltam-lhe conhecimentos básicos necessários para a aprendizagem. Logo, é da ordem da linguagem e, não, da área médica.

       A termologia “Dislexia” vem sendo questionadas por profissionais da linguagem, psicanalistas, porque tem produzido uma sonoridade de patologia e, não o é.   Portanto, falar em cura ou tratamento mesmo para o sujeito que é de fato disléxico é equívoco e até mesmo irresponsabilidade.   Pois, dislexia não é uma doença e sim uma forma particular de leitura.   Pode-se dizer que ser disléxico é como ser canhoto.   Então as pessoas “são” disléxicas e não “estão” disléxicas.   As pessoas nascem disléxicas ou não-disléxicas e, assim permanecem por toda a vida, assim como as pessoas que nascem canhotas.   

       Então, é preciso entender que ser disléxico é uma condição natural, assim como há pessoas canhotas ou destras.  Mas, os casos são raros.

      Sabe-se que durante muito tempo os canhotos também sofreram discriminação e tentativas de “tratamento”, pois acreditavam que o canhoto tinha um defeito. Houve até mesmo tentativas de colocar gesso na mão dominante. Mas, hoje se sabe que ser canhoto não é defeito e sim uma condição natural; alguns nascem destros e outros canhotos. Assim é ser disléxico.  

       Quanto as dificuldades apresentadas por algumas crianças, o reconhecimento das características precocemente, os encaminhamentos são de responsabilidade da área da linguagem (Psicopedagogia, fonoaudiologia).

    As grandes dificuldades de aprendizagem aparecem por volta dos 8 ou 9 anos de idade, quando a criança começa enfrentar temas acadêmicos mais complexos, as notas ficam baixas e há um fraco desempenho escolar.  Algumas características podem ser observadas nas crianças com dificuldades escolares, como: leitura lenta sem modulação, sem ritmo e sem domínio da compreensão/interpretação do texto lido; confunde algumas letras; sérios erros ortográficos; dificuldades de memória; dificuldades no manuseio de dicionários e mapas; dificuldades de copiar do quadro ou de livros; nomear objetos; dificuldades de entender o tempo: passado, presente e futuro; tendência de uma escrita descuidada, desordenada e às vezes incompreensível; não utilização de sinais de pontuação/acentuação gramaticais, inversões, omissões de letras, reiterações e substituições de letras, palavras ou sílabas na leitura e na escrita.

      Por outro lado, sabe-se que essas características apresentadas, são comuns numa primeira etapa da aprendizagem e, podem ser identificadas em algumas crianças, mas, por ser erros considerados normais no processo de ensino-aprendizagem, é preciso saber distinguir essas dificuldades das dificuldades disléxicas que são mais profundas, constantes e contínuas.  

      Devido à freqüência na ocorrência dos casos de “Dificuldades de Aprendizagem”, diagnosticados como Dislexia, em vários graus de severidade, há necessidade do esclarecimento e dessa informação. Pois, as especulações são muitas e muitas delas infundadas.

   No Ensino Público, o diagnóstico conta com uma atuação de vários profissionais da saúde, são eles, fonoaudiólogo; Psicólogo, neurologistas, neuropsicólogo, neuropsiquiatra, pois o psicopedagogo(a) ainda não faz parte desse corpo docente. No Ensino Privado, há o encaminhamento para um diagnóstico psicopedagógico. 

    Pode-se encontrar diferentes opiniões, reflexões e pontos de vista diferentes acerca do que é a “dislexia”.   Porém, sabe-se que a dislexia é um termo que se refere às crianças que apresentam sérias dificuldades de leitura e conseqüentemente de escrita; que não se trata de um problema rotineiro de alfabetização, nem de uma dificuldade no processo de leitura e escrita e, sim uma característica própria de um determinado sujeito. Na maioria dos diagnósticos, observa-se que o aluno(a) não apresenta distúrbios a nível sensorial, físico ou emocional.

   Portanto, o diagnóstico da criança que se encontra impedida no seu processo de aprendizagem requer um olhar atento da professora, dos pais e um diagnóstico psicopedagógico. Os casos mais complexos, contam com o apoio de outras áreas de linguagem como a fonoaudióloga, neurolinguísta, especialistas em linguagem.

      Por isso não se pode dizer que determinada criança é disléxica porque apresenta dificuldades de aprendizagem. O mais seguro, realmente seria entrar em contato com um psicopedagogo (a)  -, que tratam das questões de linguagem com o propósito de conhecer o que há de efetivo sobre as dificuldades daquela criança  para a intervenção adequada e/ou encaminhamentos.

      O importante é ter a consciência de que questões da Educação devem ter tratadas na Educação -, primeiro avaliadas por profissionais especializados em linguagem para obter um diagnóstico seguro e responsável.

     Portanto, definitivamente, os educadores precisam ter argumentos convincentes para informar pais, professores para que saibam como agir com os problemas de aprendizagem de seus filhos, e nunca fazer um diagnóstico prematuro.   Deve-se atuar com a certeza de que nem mesmo a “dislexia” é uma patologia, é uma outra forma de ler e escrever, uma característica específica de um determinado sujeito.  

   Na Educação contemporânea, há cerca de 25 anos, a psicopedagogia vem se definindo como intervenção no campo da aprendizagem, tratando das condições de aquisição e produção do conhecimento por parte do sujeito, e das condições de transmissão por parte dos professores.

 O Estado como tutor do Ensino Público ainda não reconhece esse profissional como parte integrante de seu corpo docente, por isso há diagnósticos irresponsáveis e infundados de dislexia, hiperatividade, transtornos dos mais variados.

    As termologias “Déficit de Atenção” e hiperatividade” vem sendo também questionadas por estudiosos porque tem produzido uma sonoridade de patologia e, na maioria dos casos, também não o é.   Portanto, falar em cura ou tratamento medicamentoso para esses casos, também pode ser prematuro, e muitas vezes os diagnósticos de profissionais da Saúde podem acarretar sérios problemas e outras manifestações na aprendizagem dessa criança.  Pois, os casos efetivos são raros.

Simplesmente, algumas crianças fazem mais barulho do que outras...Outras são mais lentas....Outras não estão prontas...

E, diante de um diagnóstico infundado, os profissionais da educação precisam ser criteriosos e agir com responsabilidade.

                   Maria Teixeira 

Psicopedagoga e especialista em Linguiagem