Psicanálise e Linguagem 

 

A Psicanálise e a Linguagem se desdobraram constantemente em campos paralelos. As conexões recíprocas, nem sempre reconhecidas, se articulam ao redor do conceito "sujeito", que opera tanto numa quanto noutra disciplina. Se, por um lado, a Lingüística tenta fazer da linguagem seu objeto, não consegue, porém, se desembaraçar do sujeito que a utiliza; por outro, a Psicanálise precisa contar com a lógica em que a palavra opera, desde que ela é o fundamento de sua intervenção. Para o sujeito, a linguagem não é meramente um instrumento de comunicação, senão, fundamentalmente, trama que o constitui. Considerando que a linguagem não é inata, como ela se transmite e quais as conseqüências das falhas nessa transmissão?

A Leitura e escrita não são aquisições comuns, “normais” das crianças por volta de 5, 6 ou 7 anos. Não é como aprender a andar, a falar. A idade ou a a natureza biológica por si só não garante aquisições de natureza social como a leitura e a escrita.  Muitos pais e educadores ainda têm a ultrapassada concepção de que a biologia, ou a herança genética fornece tudo o que a criança precisa para viver em sociedade. Ou seja, a concepção de que a inteligência é herdada geneticamente.

Para a educação moderna, as aulas devem ser "ativas", e esse "ativo" ficou traduzido como movimento físico. Como se pensar e não se movimentar fisicamente fosse passivo. Pais e educadores ficam altamente ansiosos em busca de “novos estímulos para uma criança desmotivada em suas tarefas escolares”. Está suposto aí que a motivação vem basicamente de fora, e que a criança é altamente dependente deste estímulos de fora. Uma criança assim tratada pode se tornar passiva, deixando de investir a partir de seus interesses. Espera pela “novidade dada pelo outro”. Perpetua a dependência do outro, professores ou pais.

Pais e professores ficam investidos de muito poder sobre a criança, e imaginam controlar o que seus filhos/alunos  farão, como serão, aquilo que devem fazer aqui e agora... De certo modo passam a acreditar que podem determinar o futuro de seus filhos e alunos por meio do controle dos estímulos. Ocorrem aí decepções dos pais, educadores e das próprias crianças.

Outra crença que a modernidade alimenta para a educação é de que “a criança não pode ser frustrada senão ficará traumatizada”. Em torno do “não traumatizar a criança”, a famosa estimulação visa sempre agradá-la, satisfazê-la, na medida em que esta criança responde aos estímulos satisfazendo aos pais e professores (que também não querem ser frustrados). Assim, os educadores respondem à criança no registro do prazer imediato, da utilidade imediata, mesmo às questões que visivelmente não têm nenhum prazer imediato nem utilidade funcional objetivada no momento. Por outro lado, perpetuam o brincar infantil, “para não frustrar a criança”. Os educadores respondem à criança, mesmo sendo adultos, de um lugar infantil, pois pertence ao infantil a satisfação imediata, a dificuldade e a ansiedade de esperar um outro tempo - tempo do adulto. Promovem a infantilização.

A educação moderna se infantiliza na medida em que seu futuro, ou seja, seu projeto para o futuro se esgota no presente, com pouca ou nenhuma tolerância sobre o que não é obtido num curto prazo. Claro que muitas vezes isto não aparece explicitamente, mas de modo oculto. Quando os pais se fixam num futuro imaginado para os filhos, de modo a se realizarem e satisfazerem através deles; quando a escola corre atrás desta demanda dos pais, buscando satisfazê-los; e os professores ensinam buscando sua satisfação na produção dos alunos; o prazer imediato infantil e narcísico dos pais e professores é que movimenta todo este processo.

A criança precisa ser mobilizada para as novas aprendizagens e essa mobilização é interna -, desejo do próprio aluno.

Mas a criança se organiza na verdade, a partir da demanda dos pais e professores, fica pressionada ao fim e ao cabo a satisfaze-los.  O que ela deseja? 

As aprendizagens, desde a leitura e a escrita, estão inscritas como trocas simbólicas que fazem sentido para o sujeito, criativamente. Para isto, um “não” precisa ser introduzido, um “não” firme e carinhoso, que mostre as alternativas de troca para a criança, as alternativas de construção no plano simbólico, daquilo que ela perde no particular do imaginário infantil e ganha no que é compartilhado, no social. Por isso, é necessário que aja uma  quantidade de frustação, de insatisfação, e mobilização da própria criança.  

É essa mobilização que dá sentido a atividade intelectual e aos novos saberes ou conhecimentos, desejo do próprio sujeito.  

E a mobilização vai depender do que motiva o aluno buscar aquele conhecimento.