O tempo para se reencontrar após a maternidade

   Quando nasce um filho, em especial o primeiro. Toda mulher precisa de um tempo para se encontrar de novo. Isso porque, gerar um bebê por nove meses, e pari-lo é uma experiência tão avassaladora, em tantos aspectos (físico, emocional, psicológico, hormonal…) que durante um tempo a mulher  esquece de si mesma e vive em função do outro.  Os seus prazeres e necessidades ficam em segundo plano e em meio a tanto apego, tanta dependência e tanto sentimento, tudo muda e o que era importante nem sempre é mais. Nasce uma nova mulher, com novos desejos, medos e prioridades, se conhecer e encontrar o equilíbrio entre a mãe de hoje e a mulher de antes leva tempo, para umas mais do que para outras, é o que alguns estudiosos chamam de “tempo de cura”.

  Tudo isso porque a maternidade é algo muito intenso. O início, a descoberta da gravidez, tão marcante que dispensa comentários.... Se você é mãe já me entendeu… Você mal sabe o que é tomar banho direito, fazer as unhas;  cortar os cabelos, fazer uma escova é um luxo que você guarda para um momento especial ou quando a situação chega ao limite, e faz tudo com o celular na mão e o relógio na outra contando o tempo da próxima mamada! Mas isso passa…

   Porém, quando passar essa fase, já está na hora de voltar a trabalhar (ou não, e nesse caso acho que é mais difícil ainda!), mas não mudou muita coisa, até porque seu tempo diminuiu ainda mais. Eu lembro que levei meses para perder o senso de urgência em voltar para casa, eu simplesmente não conseguia ao voltar do trabalho, entrar numa farmácia ou num supermercado e comprar o que quer que fosse com calma, escolher algo, ler os rótulos dos produtos me tomavam tempo demais... O meu filho me aguardava!

    Há um dia em que ele cresce, o apego vai diminuindo, as noites melhorando.  Mas é tanto a fazer, tanta coisa nova na sua rotina que alguma coisa, muita coisa, ou quase tudo do que você fazia pra você fica sacrificado, ler um livro antes de dormir, assistir sua novela, ou série favorita, hidratar o cabelo, lixar as unhas já quebradas....nada disso tem vez.  Ao invés disso você arruma mochilas para o berçário ou creche, brinca com seu filho, lava mamadeiras, pensa na papinha, prepara as roupas e, tudo mais que deve ser levado ou deixado para o dia seguinte.

    Você amava ir a praia, mas, passa ter vergonha do corpo, preguiça de levar a tralha toda, e tem o horário do sol, o problema do lugar (Agora não pode ser qualquer lugar). Pronto desiste!  Sair com os amigos? Nem pensar!  Os horários são restritos...mas, ótimo se  conseguir!  Receber amigos em casa? Ah! Você quer  mais é se jogar no sofá e, aproveitar o tempinho que lhe resta. A verdade é que a rotina é tão diferente que não temos forças, parece que passamos por um tsunami. Parece que é melhor ficar do que sincronizar tudo para conseguir fazer algo diferente ou mudar a rotina que já estamos nos acostumando com ela.

  Na verdade, parece que cruzamos outra fronteira e, é só a maternidade que faz tudo isso conosco. Mas, aos poucos, vamos redescobrindo prazeres que eram só nossos...Se exercitar, caminhar, ainda que com pressa; fazer as compras de supermercado; ir ao shopping Center, ainda que as primeiras aquisições sejam sempre para ele (o seu bebê).  Em quando está sem ele, passa a sentir a ausência dos choros, gritos, de suas gargalhadas. Vem à angústia de tê-lo deixado sob outros cuidados. E, quando chega em casa e vê que ele dorme tranquilo, ainda assim, vem a culpa: não quero fazer isso de novo. 

   Haverá dias em que você vai ter uma vontade enorme de ter um dia só pra você, mas tenha total certeza de que não conseguirá, muito mais por saudade do que por culpa, mas com o tempo, vem à segurança, a certeza de que ele sobreviverá sem você e, já conseguirá cuidar dele e de você, incluí-lo nos seus planos de lazer.

   E ainda, vale lembrar que todo esse caminho em busca do meio termo entre as necessidades pessoais e maternas, tem que ser percorrido também como casal. O casal também precisa se reencontrar, redefinir, achar tempo, espaço e privacidade, relembrar velhos prazeres e descobrir uma nova forma de ser marido e mulher, sendo pai e mãe. Para no fim descobrirem que ser mãe e pai é maravilhoso, mas, não deixem de matar saudades de vocês mesmos também...  E, não deixem que esse tempo de reencontro com vocês mesmos demore tanto...a criança é apenas um convidado ilustre que chegou para tornar a vida de vocês ainda mais feliz  e interessante...

 

    Um abraço, 

                                                      Maria Teixeira