A Criança e a Timidez

  

     Timidez é um sentimento de inferioridade. A criança não nasceu tímida ou extrovertida. Ela aprendeu a ser assim. Trata-se de mais um comportamento pré-fabricado, dentre tantos que existem para rotular os sujeitos, lhes dar identidade. A timidez também se torna um identificador de sujeitos, é a mesma coisa que outros rótulos, tais como, medroso ou corajoso, culto, popular, extrovertido, etc.

Um indivíduo corajoso, apenas repete os gestos superficiais, que caracterizam aquilo que chamamos de coragem. Assim coragem, ou demonstração de bravura, são simples roteiros que se seguidos à risca, tornam qualquer um medroso, ou corajoso, ou bondoso, não significando, entretanto, que internamente, dentro de si, aquele indivíduo seja qualquer uma dessas coisas. 

 É como um ator a representar seu papel teatral daquele dia. Representando, fingindo, ele é capaz de se tornar corajoso, ou extrovertido, ou covarde. Ele pode se tornar qualquer personagem, sem, no entanto, ser nenhum deles de fato.  

Para entender a timidez, precisamos entender como se sente alguém tímido, que fatores externos e depois internos, o levaram a interpretar, na vida real, esse papel ingrato. Mais importante, no entanto, é compreendermos porque existe este tipo de comportamento, esse modelo de personalidade, que faz parte de um sujeito, que às vezes o domina, que o controla e dirige a sua vida, aparentemente, inerente à sua vontade.  

A timidez se instala no sujeito a partir de comparações com outra pessoa que é extrovertida ou, em algum momento de exposição excessiva por outra pessoa. Um tímido é alguém que sempre está em desvantagem, seja em relação a um, seja em relação a muitos. Ele se compara, não porque o deseje, mas porque já foi comparado antes, e logo se sente inferior, é um sentimento de inferioridade, de incapacidade. Logo sua auto-estima é baixa e, se sente afetado em público.  

Criamos o tímido quando elogiamos qualidades no outro em relação a ele. Esse é diminuído ou perante aos colegas, ou dos seus irmãos, deixando claro que determinados comportamentos ou qualidades este não possui. Por exemplo, um certo padrão de beleza que todos desejam ter, que passa a valer como ingresso de aceitação social, como um salvo conduto para merecer a atenção de um grupo, como um ingresso para fazer parte desse grupo, cria ou acentua a sensação de insegurança, própria do tímido.  

Por isso trabalho em grupo é tão importante, sendo essencial, no entanto, que educadores e pais,  criem na turma a ideia de igualdade. Isso se consegue na delegação adequada das tarefas, onde, ninguém deverá receber méritos diferenciados, ou ser elogiado por alguma particularidade. Deve-se elogiar sim, não um autor, mas a qualidade do trabalho do grupo, destacando-se as qualidades de cada um, sem classificar como menos ou mais, mas como igualmente importantes quando postas em conjunto, como resultado final. 

 Ao educador (pais e professores) resta o respeito à criança, só assim poderão ajudá-la a sair desse lugar de desvantangem. 

Compreender a timidez, isto é, seu plano de atuação na formação da psique da criança ou jovem, liberta-o(a do adulto inseguro, frustrado, violento e insatisfeito que seria no futuro.

A sensação de insegurança é quase uma regra entre os mais novos, assim como não podemos menosprezar, o medo que tenham, por exemplo, de falarem em público. Se obrigado, sem estar preparado pode aumentar sua frustração e sensação de pequenez, que por si mesmo já é grande, não precisando, portanto, de alguém para lhes lembrar daquilo que todos já sabem sobre ele.  

Restaurar a segurança, ou confiança perdida, de uma criança ou jovem, primeiro começa pela compreensão, da parte do educador (pais e professores), de que aquele sentimento merece atenção e consideração. E apenas assim, ao ganhar o respeito do educador que se mostra solidário consigo, ela(e) se mostrará disposta a sair desse lugar desconfortável.

Compreender e trabalhar essa diferença individual deve ser o primeiro passo dos educadores  (pais e professores) que deseja ajudar. Mas só poderá ajudar se o outro o permitir, e este só lhe dará acesso, se confiar em suas intenções. Isso se comprova pelo comportamento, palavras e ações, e nunca com discursos, por mais floridos que possam parecer. O tímido é mais observador que os demais, está sempre atento, afinal, escuta mais do que fala. O silêncio é um meio de se proteger dos ataques ou comentários que sempre acham virão.     

 E finalmente, não se cura a timidez bem como, outros comportamentos diferentes com as comparações, isso apenas tende a agravar o quadro. Comparar um tímido a alguém de comportamento não retraído é o mesmo que fazê-lo sentir-se culpado pelo fato de ser inseguro, quando na verdade ele o aprendeu a ser. Fizeram dele um tímido, sem direito à escolha.

O comportamento diferente, assim como os nossos desejos e manias, medos e vaidades, sejam desagradáveis ou não, aprendemos sem o nosso consentimento, se depois os rejeitamos ou aprovamos isso é outra história.  

Timidez é um comportamento que deve ser trabalhado na infância quando a psique do sujeito está em formação, pois um sujeito tímido desenvolve uma estrutura fragilizada, é um sujeito que sempre se sente em desvantagem em relação ao outro ou a um grupo, é alguém que se sente sempre inferior, incapaz, com baixa auto-estima, logo muitas vezes infeliz.  

 

Maria Teixeira

Psicopedagoga e especialista em Linguagem

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